terça-feira, maio 30

Um pouco de música... HAL

Ao que consta, esta nova banda Irlandesa, HAL, é um hino ao isolamento.
"Estamos isolados de qualquer contexto relacionado com bandas musicais", diz Dave. "De vez em quando as pessoas recomendam-me um novo álbum e eu toco-o durante uns dias. Mas volto sempre aos artistas de que gosto mesmo - como Harry Nilsson, Brian Wilson and Van Morrison."
O grupo é composto pelos irmãos Dave (26, vocalista,guitarra) e Paul Allen (23, coros, baixo), Steve Hogan (28,bateria) e Stephen O'Brien (27, teclados). São todos de Kiliney, uma cidade ao sul de Dublin, Irlanda.
O seu primeiro álbum, HAL, é descrito como "popular e arcaico, moderno e "fora de tempo". A maioria dos grupos não terão um vocalista com uma voz como a de Dave Allen's, capaz de cortar a repiração, cujo falseto dá às músicas de Hal uma espécia de luxúria e evoca os bons tempos do Rock. As harmonias que cria com o seu irmão Paul (algo tipicamente familiar, veja-se Everly Brothers e os Wilson Brothers) são quentes o suficiente para derreter os corações mais frios."
Enfim, ouvi o álbum por "acidente" e até gostei, mas falta qualquer coisa. Não está mal. Bem melhor do que muitos álbums que oiço por aí ultimamente. Mas fiquei com aquela impressão - Podia ser melhor. Parece-me que têm tudo para isso. Bem, aqui fica uma das músicas (que eu pessoalmente gosto bastante, tanto a versão que está no álbum como esta aqui):
HAL - What a Lovely Dance (versão acústica)-------»

segunda-feira, maio 29

Elogio ao amor, por Miguel Esteves Cardoso

Fotografia por Nokas, «running heart»
"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro.

Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.

Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".

Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.

Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.

O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.

A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

sexta-feira, maio 5

Monólogos cerebrais


Hoje à noite (re)vi o Moulin Rouge... Já tinha saudades... Cada vez que o vejo, lembro-me dos comentários da Ru ao longo de todo o filme, aqueles tão típicos de alguém que já o viu, de forma muito subtil e (claro! Não fosse ela a Ru lol) totalmente sem intenção mas a estragar as surpresas e a descobrir coisas por nós... (Na altura não conhecia a música "Like a Virgin", quanto mais saber que era da Madonna, e lembro-me de ela estar ao meu lado, começarem os acordes da música e tudo o mais.... «então estás a ver qual é a música né? LINDO!» e eu «ah!esta música! Pois! Não me lembro bem de quem era mas...Sim...Tou a ver»)
Apercebi-me de como este filme me marcou... Nesta minha recente "demanda amorosa"... Tinha EXACTAMENTE aquela ideia do «meu ex-menino» (e esta frase acabou de me dar um ar mt "pimp"), e não me tinha apercebido. Pú-lo num pedestal alto demais...Em que ele me estaria a magoar para me "salvar" de algum mal maior, ou algo do género. Como a grandiosa Satine fez ao Christian, e apesar de ela ter sido bem mais convincente do que "o meu cortesão" (zero pontos para a representação da parte do menino João). A isto sim se chama ver filmes a mais.... Pensando que não... Eu tinha mesmo a convicção que era uma situação em (quase) tudo idêntica. Tinha e, não vale a pena enganar-me, ainda tenho essa convicção. Porque mesmo depois de me aperceber de tudo isto!, invento raciocínios que vão buscar todo o enredo para usar como justificação. Raciocínios absolutamente desesperantes até para mim, que os formulo...
(Por exemplo - e transcrevendo por momentos um monólogo no meu cérebro - «É perfeitamente possível que ele goste de mim e não me queira magoar, mesmo porque para além de ter sido a última coisa que ele me disse, foi tudo muito estranho e seria a ÚNICA explicação razoável. Hum! Talvez tenha uma doença qualquer incurável e prefere que eu me afaste já... Talvez seja uma escolha de vida ou morte... Talvez a minha morte! Ou a dele! Como no Moulin Rouge! Vês? Aha!» E aqui, rematando com este argumento mais que definitivo, termina a discussão - apenas para começar mais tarde, num momento particularmente aborrecido do meu dia, como a minha aula de Psicologia ou uma viagem de metro.)
Lá está... Muito deprimente... E a culpa de tudo isto é do belo Moulin Rouge, que marca as nossa vidas de uma maneira absolutamente cruel (Quem não passa a imaginar momentos românticos em cenários com nevoeiro que nos dá pelos joelhos, dançar com guarda-chuvas, qual Gene Kelly, na ponta da Torre Eiffell e uma lua com voz de tenor?), pronto romântica (e desesperante)... Sinto uma necessidade enorme de me controlar e pensar que um amor assim é perfeitamente possível, que claro que marca a vida de uma pessoa, mas que não DESTRÓI necessariamente essa vida (sim, a imagem do Ewan McGregor no início do filme é francamente desmotivante), só porque acabou (por razões trágicas como a do filme ou de outra forma, quem sabe - se a rapariga não tivesse tuberculose mais tarde não se chateavam devido ao passado promíscuo dela, ou "a família" os "amigos"... Enfim talvez descobrissem que não eram assim tão certos um para o outro! Claro, estou a tentar não ser céptica...) Acredito mesmo que este amor é possível. Este «until my dying day».
A minha hora não chegou - E ainda bem, porque só tenho 17 anos - mas... Quem mandou o "Moulin Rouge" intrometer-se na minha vida??? O que conduz à pertinente questão... Quem será a próxima vítima?